Vi recentemente na TV uma reportagem sobre os dias quentes deste primeiro mês de Primavera. Em algumas cidades do interior paulista a baixa umidade do ar prejudica os mais sensíveis, esgota aqueles que realizam trabalhos braçais e muda a rotina das pessoas, acostumadas a condições climáticas mais amenas.

Quando a umidade do ar fica abaixo dos 20% e a temperatura beira os 40ºC, a respiração torna-se difícil e a energia esvai-se facilmente.

Cerca de três mil anos atrás os hindus já conheciam o segredo de uma boa saúde; já naquela época eles estavam acostumados com o clima severo. O segredo está naquilo que sustenta o corpo, naquilo que lhe fornece energia para viver.

 

A maioria das pessoas pensa apenas nos alimentos, mas observemos por um instante tudo aquilo que de fato absorvemos para viver. Pode-se viver sem comida por cerca de um mês. Sem água, o corpo se mantém por uma semana. Sem ar, a vida se sustenta por uns poucos minutos. Assim como a ingestão de água pura e os bons hábitos alimentares mantêm o funcionamento adequado do corpo, a respiração correta é o que determina que a saúde seja plena e perfeita. Não é à toa que os mestres yogues costumam contar o tempo de vida de uma pessoa pelo número de respirações, não pelo número de anos.

Nas artes marciais a importância da respiração é amplamente conhecida. O kiai, o grito emitido ao desferir um golpe contra um oponente, potencializa a força física -- um efeito semelhante ao das máquinas pneumáticas. A maioria das práticas meditativas consiste em tão-somente respirar lenta e conscientemente.

 

Mestres experientes garantem que a respiração consciente traz serenidade, vigor físico e mental e amplia a sensibilidade e a percepção. Alguns chegam a desenvolver poderes extra-sensoriais através da prática diligente de exercícios respiratórios ou mesmo poderes de cura.

 

respiracaoUm exercício bastante simples, que pode ser praticado diariamente, consiste em respirar profunda e lentamente relaxando o abdômen. A respiração é ampliada pelo movimento relaxado da parte inferior do abdômen (chamado hara pelos japoneses e tant'ien pelos chineses). O caminho do ar dentro do corpo deve ser mentalmente visualizado e percebido: inicia-se nas narinas, desce pela traquéia, passa pelos pulmões e termina num ponto situado logo abaixo do umbigo, no centro do corpo, retornando a partir deste ponto. Fechar os olhos e contar o número de respirações (de dez em dez, por exemplo) pode ajudar a concentrar-se na respiração e impedir que se caia no sono durante o exercício. Sentar-se com a coluna alinhada numa cadeira (em vez de se deitar ou acomodar-se numa poltrona macia) também ajuda a manter a consciência sempre viva. Dez minutos diários desta prática melhoram significativamente a saúde, mas os mestres sugerem que se pratique pelo menos por uma hora. Aos poucos, a prática pode ser aplicada em todos os momentos da vida e os benefícios não serão apenas físicos, mas também mentais e espirituais.

 

Basta respirar.

 

30 de setembro de 2004

Christian Rocha