Morihei Ueshiba ( O Sensei )
(1883-1969)
Morihei Ueshiba, foi um dos quatro maiores artistas marciais do Japão durante o século 20 e junto a esse mérito, estão presentes Gishin Funakoshi, fundador do Karate moderno, Jigoro Kano, fundador do Judo e Sokaku Takeda, o mais bem sucedido difusor do Daito-Ryu Aikijujutsu.
Morihei Ueshiba teve uma vida extremamente excitante, parte dela devido as grandes mudanças do Japão durante a primeira parte deste século, as guerras com a Rússia, Coréia, China e Segunda Guerra Mundial, o processo de colonização da ilha no norte do Japão (Hokaido) e etc. Duas pessoas parecem terem sido de suma importância durante sua vida e para o desenvolvimento do Aikido, Sokaku Takeda (seu mestre do Daito-Ryu Aikijujutsu) e o reverendo Onisaburo Deguchi (seu guia espiritual e co-fundador da religião Oomoto).
Morihei Ueshiba nasceu numa vila de pescadores e fazendeiros em Tanabe (atual Prefeitura de Wakayama), no dia 14 de dezembro de 1883, filho mais velho do Sr. Yoroku e Sra. Yuki Ueshiba.
Seu pai era um próspero fazendeiro e um político local e por diversas vezes o jovem Ueshiba presenciou seu pai ser humilhado e mal tratado por um bando de valentões e capangas de seus adversários políticos, deixando uma profunda impressão no jovem Ueshiba, que apesar de fisicamente franzino, resolveu se tornar forte o bastante para enfrentar essa situação relacionada ao que acontecia com seu pai.
Seu interesse em Matemática o levou a entrar em uma famosa academia e após um ano era assistente de seu professor. Após formar-se na Academia, consegui um emprego num escritório de impostos locais em Tanabe e desenvolvendo seu trabalho tão bem, lhe foi oferecido um trabalho numa agência em Tókio, mas ao invés de aceitar esse emprego, ele se engajou em trabalhar em pró dos pescadores locais que começaram a protestar contra o novo Ato de Regularização. As habilidades de Morihei nos códigos de taxas ajudaram muito os pescadores.
Em 1901 aos 18 anos Morihei segue para Tókio abrindo uma papelaria com diversos empregados, mas após pouco tempo ele contraiu beribéri devido a uma alimentação muito fraca do qual ele teve que retornar para Tanabe para se recuperar. Durante seu curto período em Tókio, ele praticou Tenjin Shinyo-Ryu Jujutsu, e também visitou um dojo de Yagyu Shinkage-Ryu Jujutsu. Ele também se interessou por uma jovem garota nessa época, Hatsu Itogawa, que ele já conhecia desde sua infância e em 1902 se casaram.
Em 1903, ele foi convocado ao serviço militar, mas não conseguiu por não preencher os requisitos, pois sua altura era de 1,55 metros, Morihei era uma pessoa determinada, ele então começou a ir regularmente as matas praticar alongamento, por exemplo pendurando-se em galhos com pesos nos pés e outros exercícios.
No ano seguinte ele entrou para a infantaria aonde se tornou um excelente soldado. Ele também se tornou campeão de Sumo no regimento e campeão em luta com baioneta ou Yu-Kendo. Durante seu serviço militar e quando estava fora, Morihei também praticou artes marciais, especialmente na escola Yagyu Shinkage Jujutsu na cidade de Sakai perto de Osaka.
Em 1904 a guerra russa-japonesa aconteceu e Morihei se encontrava na Manchuria há 1 ano e meio. Foi uma terrível guerra com baixas em ambos os lados e parece que Morihei participou ativamente das lutas, chegando ao posto de sargento (segundo o livro de Kisshomaru Ueshiba). Quando ele foi dispensado após a guerra que terminou em 1907, caiu em profunda depressão. Após sua dispensa ele continuou a praticar Jujutsu na escola Yagyu Shinkage.
Em 1908, seu pai construiu um dojo em sua propriedade e convidou diferentes praticantes de artes marciais para instruí-lo, tendo também um hábil instrutor de Judo, no qual Morihei tirou proveito para praticar regularmente. Morihei era uma pessoa agitada e por volta de 1909 ele ficou envolvido num movimento de protesto contra o recente Ato de Consolidação Política, e ficou sob influência do notável Kumagusu Minakata, que havia estudado Ciências no Estados Unidos e Inglaterra onde se tornou catedrático em estudos japoneses em Cambridge. Minakata fez uma valiosa contribuição para os estudos de Arqueologia e Antropologia Japonesa e religião Oriental, também esteve ativo como ecologista, que apoiou o movimento de preservação da natureza.
Em 1910, seu primeiro filho, uma menina chamada Matsuko nasceu. Por volta de 1910 ele também encontrou um amigo que tinha visitado na ilha de Hokaido no norte do Japão, falaram sobre as grandes oportunidades que estavam sendo abertas pelo governo para colonizar essa religião fria e inóspita naquele tempo. Morihei Ueshiba achou isso interessante, decide se tornar um pioneiro e sai para uma inspeção onde encontrou uma área apropriada para colonização perto de Shirataki no lado nordeste da ilha, tendo também encontrado o governador de Hokaido para discutir possibilidades futuras. De volta a Tanabe, ele começou a informar os moradores da vila sobre as oportunidades e também começou a fazer campanha, onde o objetivo era participar de futuro êxodo na área de Shirataki. Morihei Ueshiba conseguiu com êxito juntar 52 famílias e 84 pessoas para acompanha-lo ao norte. Em 1912 ele partiu para Hokaido, sendo que a viagem levou 2 meses e tiveram muitas dificuldades no caminho. Eles limparam florestas e também prepararam a terra para o plantio em Shirataki, as primeiras colheitas foram muito fracas e muito dos colonizadores que acompanharam Morihei Ueshiba não deram por satisfeitos com o projeto. Sensei Morihei Ueshiba que era líder do projeto, trabalhou intensamente a fim de melhorar as circunstâncias e a situação. Depois de anos a colheita se tornou muito melhor e ao mesmo tempo o comércio de madeiras serradas também. Houve tempo ruim, como em 1917, quando a vila inteira pegou fogo e foi completamente destruída. Porém todos trabalharam incansavelmente e reconstruiram a vila. Devido ao seu zelo, força e senso de justiça, Morihei Ueshiba torna-se um líder popular da região, sendo eleito conselheiro da vila durante esses anos.
Em 1915, quando ele foi a vila de Engaru em Hokaido, ele escutou falar de uma arte marcial (Daito-Ryu Aikijujutsu), da qual estava sendo investida na cidade. Morihei Ueshiba imediatamente foi conhecer tal arte marcial, encontrando-se com o mestre Sokaku Takeda, que simplesmente o derrotou apesar de sua idade. Ele ficou tão impressionado com a habilidade de Sensei Sokaku Takeda que decidiu ficar por lá 30 dias. Após sua volta ao vilarejo, ele começou a construir um dojo e convidou o mestre Sokaku Takeda a vir ensinar, construindo também uma casa para o seu futuro mestre. Mestre Takeda que era um homem de personalidade forte e de difícil convivência, foi um dos mais formidáveis espadachins do Japão, tão terrível eram suas técnicas, que recebeu o apelido de Tengu (Demônio), vencendo a todos os que o desafiace, por várias vezes terminando de forma fatal para os seus oponentes.
Na realidade Sokaku Takeda representa a ligação entre nossos tempos e os tempos dos Samurais, foi ele na verdade que divulgou o Aikijujutsu para a população fora do fechado Clã Aizu.
Morihei Ueshiba passou a praticar intensivamente com mestre Takeda, e também o acompanhou em suas viagens para ensinar em Hokaido. Nesse meio tempo sua esposa Hatsu deu a luz a dois filhos.
Em 1919, Morihei Ueshiba recebeu a notícia que seu pai estava muito doente, sendo esta a principal razão para deixar Hokaido. Então, primeiro ele mandou sua esposa e as crianças para Tanabe e depois partiu sozinho, deixando tudo aquilo que construiu e conquistou, os amigos, propriedades, prestígio e também seu mestre Sokaku Takeda. No trajeto de trêm devolta para casa de seu pai, ouve falar do Reverendo Onisaburo Deguchi, co-fundador da nova religião Oomoto, situado em Ayabe, perto de Kyoto. Então ele decidiu desviar o seu caminho para Ayabe, afim de descobrir por ele mesmo sobre essa religião que todos falavam tanto e também fazer preces para a recuperação de seu pai. No centro da Oomoto em Ayabe, Morihei Ueshiba ficou profundamente impressionado, tanto do centro como também de seu encontro com o líder Onisaburo Deguchi, pois desde criança ele já tinha um grande interesse pelo estudo espiritual.
Após esse encontro com Deguchi, voltou imediatamente para casa de seu pai em Tanabe, logo que chegou tomou conhecimento de seu falecimento. Transtornado com a morte de seu pai, pessoa por quem ele tinha uma profunda afeição, seu comportamento nos meses seguintes foi fortemente modificado, chegando a sair a noite pelas florestas e estava completamente agitado. Após esse difícil período ele anunciou que iria para Ayabe se estabelecer com sua família. Na primavera de 1920, muda-se para Ayabe junto com sua esposa e seus três filhos.
Lá ele colocou toda a sua energia na Oomoto, aprendeu por exemplo caligrafia, pintura, o domínio do Kotodama e como escrever poesias, dedicando-se à meditação e ao estudo da essência do Budo. Aos poucos Onisaburo Deguchi percebeu a habilidade de Morihei Ueshiba em artes marciais, encentivando-o a transformar em dojo uma parte da sede da Oomoto.
Esse dojo que se chamava Ueshiba Juku, tendo como seus alunos, seguidores da Oomoto e também pessoas de fora, como por exemplo, oficiais da marinha da base Maizuru próxima ao dojo. Esse evento foi a sua única alegria nesse primeiro ano, por que dois de seus filhos vieram a falecer por motivos de doença.
Em 1921, um novo filho nasceu e deram a ele o nome de Kisshomaru.
Em 13 de fevereiro de 1924 Morihei Ueshiba a convite do reverendo Onisaburo Deguchi e mais 3 outras pessoas, foram primeiro a Manchuria, através da Korea, e então para Mongólia, afim de difundir a Oomoto no exterior.
Todavia, por problemas políticos na China ocasionaram grandes dificuldades, durante suas viagens o grupo foi perseguido diversas vezes, sobrevivendo miraculosamente.
Em 20 de junho do mesmo ano na cidade de Baian Dalai foram presos e trazidos juntos a 130 outras pessoas que seriam executadas no dia seguinte.
Mas o grupo de Morihei e Deguchi foi poupado, após negociações entre os dois governos, foram soltos e puderam retornar para o Japão. Lá Morihei Ueshiba continuou com a lavoura e ensinando Daito-Ryu Aikijujutsu.
Em 1925, Morihei Ueshiba teve uma divina visão, após um duelo com espada de madeira (boken), motivado por um desentendimento entre ele e um oficial da marinha perito em espada, no qual foi incapaz de atingi-lo. Mestre Ueshiba pode premeditar o ataque de seu oponente, (declararia mais tarde que captava sinais luminosos para onde a espada do seu oponente iria bater).
Após o combate, Mestre Ueshiba vai para o jardim de sua cabana e ao olhar para o céu, subitamente tem uma estranha vibração. Com suas próprias palavras, ele descreve o acontecido:
"Tive a sensação de que o Universo inteiro encontrava em vibração e uma energia de cor dourada se elevava da terra e se enrolava como um novelo no meu corpo, deixando-me dourado. Nesse instante meu corpo e meu espírito tiveram uma clara consciência do pensamento de Deus, o criador do Universo".
Na mesma hora ele se convenceu que o verdadeiro significado do Budo, não era matar ou machucar os outros e sim amar a todos. Desse período em diante, ele fez viagens regulares a Tókio e Ayabe afim de ensinar Daito-Ryu Aikijujutsu em vários locais, e em 1927 após 8 anos em Ayabe, ele foi finalmente persuadido pelo admirável Takeshita e outros oficiais elevados a sair de Ayabe e mudar-se permanentemente para Tókio.
A família Ueshiba comprou terras em Wakamatsu cho em Tókio e começou a construir um grande dojo, com ajuda de muitas pessoas influentes. Nesse meio tempo ele ensinou Daito-Ryu Aikijujutsu em vários locais em Tókio. O novo dojo Kobukan, foi aberto em 1931. Sua reputação naquele tempo foi como o mais experiente artista em artes marciais do Japão e muitas pessoas tiveram que ficar na fila para se tornar um membro. Mestre Ueshiba também recebeu a visita do renomado mestre Jigoro Kano, fundador do Judo e admirado pela técnica do mestre Ueshiba, designou três alunos para estudar com ele. Esse dojo também recebeu o apelido de Dojo do Inferno, pois seus alunos eram jovens, a maioria graduados em outras artes com Judo, Esgrima ou outra luta. Esses alunos treinavam duro e intensamente, eram uchi-deshi (estudantes internos).
Durante os anos 30, mestre Ueshiba era um homem conhecido publicamente. Ele também foi a Manchuria e a Universidade de Kenkoku diversas vezes, para ensinar e para fazer demonstrações. Em 1936 mestre Ueshiba ensinou Daito-Ryu Aikijujutsu na Sede do Jornal Asahi em Osaka. É nesse período que mestre Ueshiba chamou sua arte de Aiki-Budo, Ueshiba-Ryu e tantos outros nome, e no fim da segunda guerra em diante, finalmente escolheu AIKIDO como o nome mais apropriado.
Durante os anos 30, mestre Ueshiba também praticou por vários anos Katori-Shinto-Ryu sob direção de Kashima paralelamente aos seus ensinamentos e também comprou terras em Iwama.
Em 1942 com 59 anos, durante a guerra, ele decidiu abandonar toda suas tarefas públicas e tornou-se novamente fazendeiro.
Em Iwama, mestre Ueshiba construiu uma simples casa, um santuário e um dojo. Após a guerra, toda prática de arte marcial foi proibida pela ocupação das Forças Americanas até 1948, quando novamente foi permitida, pouco a pouco. O Aikido se desenvolveu tanto em Iwama como em Tókio, onde o dojo ainda estava intacto. O dojo em Tókio reabriu oficialmente em 1949.
Durante os anos 50 seus primeiros alunos foram mandados para o exterior, ao mesmo tempo que diversos de seus alunos acharam seus próprios caminhos como: Kenji Tomiki (Tomiki Aikido) e Gozo Shioda (Yoshincan Aikido).
Em diversos filmes, pode-se ver a grande diferença do Aikido de mestre Ueshiba, após a guerra comparando com o de antes da guerra. Antes da guerra, era muito severa e difícil, mas após a guerra ela se tornou mais circular e menos hostil, até mesmo se a prática for intensa.
Em 1961, ele foi ao Havai, Estados Unidos pela primeira vez, e ficou lá durante 40 dias. Em 1967 um novo dojo foi aberto em Tókio, o atual Hombu Dojo. Em 25 de janeiro de 1969, ele fez sua última demonstração de Aikido no Hombu Dojo, doente com câncer no fígado, depois de três meses em 26 de abril ele veio a falecer, aos 86 anos de idade. Sua esposa Hatsu, faleceu dois meses mais tarde. Seu filho Kisshomaru que o acompanhou desde infância tornou seu sucessor, recebendo o título de Doshu.
Memorandum
O Aiki requer que o indivíduo percorra ao mesmo tempo o caminho do corpo e o caminho da natureza. O Aiki é uma manifestação da verdade, harmonizando todas as coisas existentes neste mundo, observando-as no amor. Para que se perceba a verdadeira paz mundial, é imperativo que nos tornemos unidos com Amor Absoluto e com Sinceridade Absoluta. Isso significa que mesmo que alguém se zangue com você, você deve se harmonizar com essa pessoa. Um outro nome para Bushi (Guerreiro) é Samurai, que significa "aquele que vive o caminho do amor". Uma pessoa que simplesmente luta com as outras não é um samurai de verdade. Eu quero seguir em frente com os movimentos do amor através do nosso treinamento e do espírito, para que sírvamos como pilares para a sociedade. No passado, as Artes Marciais foram usadas incorretamente para ajudar nas inúmeras mortes que caracterizam o passado do Japão.
O Aiki, por outro lado, existe para salvar as vidas humanas. Para dizer de outro modo, Aiki é uma maneira de prevenir que as pessoas se machuquem.O respeito pela vida é o caminho do Aiki, e é por isso que o "AI" de "AIKI" está intimamente ligado a palavra japonesa "AI", que significa "AMOR". E foi por causa desta relação, na verdade, que eu chamei originalmente meu próprio caminho de "AIKIDO". Isso também significa que o "AIKI" usados pelos antigos praticantes de artes marciais é fundamentalmente diferente, tanto em significado quanto em forma, do que eu chamei de "AIKI". Eu espero que todos pensem cuidadosamente sobre o que eu estou dizendo aqui.
Como eu dizia, o Aiki não é uma maneira de lutar e derrotar os outros com força e armas, mas sim, o caminho de harmonizar o mundo, para unir toda humanidade sob o mesmo teto, como uma grande família. Este é o caminho do grande espírito do Amor de Deus, o caminho de servir como instrumento das grandes obras da harmonia universal. Este caminho é o caminho do universo, e treinar Aiki é treinar-se para executar obras divinas. A realizção disto aumenta a força do universo, e torna uma pessoa o próprio universo.
Fonte: aikido honnô